Vaticano
Nome do papa revela características de seu pontificado
O argentino Jorge Mario Bergoglio, de 76 anos, será chamado de Francisco
Vivian Carrer Elias e Cecília Araújo
Papa Francisco deixa a Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma - Alessandro Bianchi/Reuters
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São Francisco de Assis traduz a personalidade humilde e simples pela qual o argentino, que anda de ônibus e se dedica aos mais pobres, é conhecido. Embora Bergoglio não tenha se formado pela ordem franciscana, sua personalidade se assemelha à de São Francisco de Assis, cujo nome está atrelado à humildade, à simplicidade e à reconstrução da Igreja. “O papa Francisco pediu ao povo que lhe abençoasse antes de ele dar a benção, o que revela um gesto de humildade característico dos franciscanos”, disse Valeriano dos Santos Costa, diretor da Faculdade de Teologia da PUC de São Paulo.
Reconstrução – William Cook, professor de história da Igreja Católica da Universidade Estadual de Nova York, explica que quando São Francisco recebeu o chamado de Deus, ouviu que deveria reconstruir a Igreja. “Eu acho que, de alguma forma, ele (o papa Francisco) está proclamando que será um novo dia. Reconstruir a igreja significa reevangelizar. Significa consertar a igreja institucional que ruiu na burocracia do Vaticano”.
O professor acrescenta que Francisco “nunca criticou ninguém sobre seu estilo de vida”. “Então, eu acho que ele está dando uma declaração, não só de que seu jeito de tratar das coisas é humilde, mas também de que não será acusatório, mas inclusivo”. Para Francisco Borba Ribeiro Neto, coordenador do Núcleo de Fé e Cultura da PUC de São Paulo, com a homenagem a São Francisco de Assis, “podemos concluir que ele será um papa com uma grande preocupação com questões de caridade e de ação social”.
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Evangelização – Outra característica revelada pelo
nome escolhido pelo novo pontífice é a ênfase à nova evangelização. Em
relação a isso, o nome também remete a São Francisco Xavier, um santo jesuíta,
ordem da qual o argentino também faz parte. “São Francisco Xavier foi
um grande missionário do Oriente”, lembra Ribeiro Neto, acrescentando
que o novo papa poderá “apresentar o cristianismo para quem não é
cristão”. “Pode ser, então, que seja um pontificado mais preocupado com a
difusão do cristianismo do que com problemas internos da Igreja, embora
fatalmente o novo papa tenha de enfrentá-los”.
A característica de evangelização também é encontrada entre os
franciscanos que, ao lado dos dominicanos, foram uma das primerias
ordens a chegar ao novo mundo, ressalta o professor Cook. “Várias
cidades na América Latina têm o nome de São Francisco, Santa Cruz. Os
franciscanos foram importantes na evangelização e também representam a
ordem que levou o cristianismo para novos lugares”.
“Eu espero que o papa dê continuidade a esse aspecto do próprio
Francisco, que foi conhecer um sultão no Egito e o abraçou. Obviamente, o
mundo cristão tem que viver pacificamente com o mundo islâmico e isso é
outra coisa que nós associamos com São Francisco. Ele também era um
amante da natureza. Ele disse que parte de nossas vidas como cristãos
deve ser amar e cuidar da terra. E eu espero que Francisco se torne o
papa verde”.
O santo, um jovem rico da cidade italiana de Assis, na região da
Umbria, renunciou à riqueza e fundou a ordem franciscana em 1209.
Patrono da Itália, São Francisco de Assis é frequentemente retratado com
pássaros, sendo também patrono da ecologia.
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O antecessor de Francisco, o agora papa emérito Bento XVI, escolheu o
nome com o intuito de dar continuidade ao papado de Bento XV, que
dirigiu o Vaticano durante a I Guerra Mundial, e também em homenagem ao
São Bento original, que fundou a Ordem Beneditina e é considerado um dos
pioneiros da educação europeia. Karol Wojtyla, ao se tornar papa em
1978, escolheu usar o nome João Paulo II, em deferência ao seu
antecessor, que teve um curto papado de pouco mais de um mês.
A tradição de o papa eleito escolher um novo nome teve início no ano
533, quando o pontífice decidiu mudar seu nome original, Mercúrio, que
remeteria a um deus pagão, para João, escolha amplamente aceita no
Vaticano. Depois dele, todos os papas seguiram a ideia.
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