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quinta-feira, 20 de junho de 2013

A política em que acredito

20/06/13 08h1320/06/13 08h37

A política em que acredito


Depois de mais de 20 anos de jornalismo político e incontáveis decepções, fazemos nossas reflexões e aprendemos algumas coisas. Talvez um dos mais importantes aprendizados é que a verdadeira mudança na história do País não virá dos políticos. A cultura política do Brasil excluiu historicamente o brasileiros da verdadeira prática política.

Só somos chamados para a "prática política" em época de eleição. Tanto que as pessoas não dizem "vai começar o período eleitoral", mas, sim, "vai começar a política".

Mesmo em período eleitoral, não somos chamados para atuar como cidadãos de primeira grandeza, mas como massa de manobra para perpetuar o poder nas mãos de quem está ou para galgar a ele uma nova elite política, que só se diferencia dos adversários pelas siglas partidárias. As intenções são sempre a mesma: servir-se do poder.

Nossa cultura política reduz a nossa prática política ao âmbito exclusivo do partido. Se o brasileiro quer "fazer política", que se filie a um partido. Nele poderá ser um candidato no futuro ou se contentar em eternizar-se como cabo eleitoral de algum "barão".

Desculpe-me todos, mas não acredito nesse sistema político vigente, no qual partidos são verdadeiras casas de orgias para tudo quanto é tipo de tramóia e manobras. Desde que a ideologia acabou - vivemos na época do pragmatismo, que, em política, significa fazer tudo, e tudo mesmo, pelo poder -, os partidos perderam a razão de existir. Qual a dirença entre o partido A e o B? Partido "de esquerda"? O que é isso hoje em dia? Vejo gente se dizendo "comunista" e "socialista" que fico imaginando as voltas que um dos poucos heróis brasileiros, Luiz Carlos Prestes, o Cavaleiro da Esperança, dá em seu caixão. Um desrespeito!

A política em que acredito não começa e termina no dia em que apertamos os botões da urna eletrônica. Essa é a nossa cultura: vamos à urna cumprir "nossa obrigação cívica", e voltamos para a casa com "o sentimento do dever cumprido". Então, elegemos mais políticos "para nos representar" nos executivos e casas legislativas.

Representar como? O sujeito pega o mandato e faz o que quer. Não há cobranças, ninguém o aborda na rua, não recebe e-mails da comunidade cobrando suas posições diante de projetos de interesse coletivo. Por isso, ele tem a cara mais deslavada do mundo de, por exemplo, ser colocado na oposição por seus eleitores e antes da posse já virar situação. E vem cinicamente dizendo que não conseguiria "atender o seu povo" com obras e benfeitorias. Conversa fiada!

O que ele é quer é empregar seus cabos eleitorais e parentes, para não lhe encherem mais o saco, e, muitas vezes, outras conquistas pessoais nada republicanas. O papel de legislador não é levantar obras para a sua comunidade. Isso é papel do executivo. Papel de legislador é fazer leis e fiscalizar com rigor quem está no poder. Fora isso, é tudo interesse pessoal.

Se o executivo não quer levar obras à sua comunidade, leve a comunidade para a porta do executivo e grite muito, faça muito barulho, muitos cartazes, vá para as redes sociais fazer piadinha contra o chefe do executivo. Faça isso uma semana que conseguirá obras e mais obras. Mas admito que a forma tradicional [se aliar ao poder] é mais rentável para o "representante popular".

Aí o executivo manda um projeto para o legislativo, que é uma agressão à comunidade, e o cara de pau vota a favor sem nem ficar corado. Não quer saber do sofrimento das pessoas, do impacto daquilo na vida delas. Simplesmente vota para não desempregar o "seu povo" ou para não correr o risco perder as regalias nada republicanas.

Então, as pessoas reclamam para o apresentador da TV, que, obviamente, não escuta porque falar com aparelho é coisa de doido; reclamam no boteco, no futebol, no clube, no trabalho. E só. Para quem elas deveriam reclamar, não reclamam: o seu "representante", que foi posto lá para defendê-las.

É nesse ponto que precisamos refletir, e mudar a nossa cultura política.

Vivemos dias históricos. Nunca vamos esquecê-los. Sou um sujeito decepcionado com a política, que não acredita em política [como está aí] e muito menos em político. Nenhum. No Tocantins e fora dele, não vejo luz no fim do túnel, não vejo um filetezinho sequer de luz vindo da classe política. Porque o processo não é personalizado, mas coletivo. Ou as pessoas passam a exercer a política, como vimos nestes dias gloriosos, ou sempre vamos viver de reclamação.

Emocionei-me esta semana ao ver as pessoas nas ruas, a grande mídia tentando mentir, como sempre, mas desta vez sendo hostilizada [a ponto de pobres repórteres da Globo terem que esconder a logomarca da emissora e da Record lamentavelmente ter um carro link queimado por vândalos]. Assim, foram obrigadas a recuar.

Os políticos, desesperados, tremendo de medo! Por quê? O povo não mandou "representante", que, com certeza, negociaria benesses e faria acordo. O povo foi pessoalmente e meteu o dedo na cara dessa gente eleita para nos respeitar, mas que nos desrespeita sem qualquer escrúpulo. Resultado: a tarifa de transporte caiu, a intragável PEC 37 já não vai entrar na pauta. E olha que a PEC da Impunidade vem sendo debatida há muito tempo e poderia ser aprovada como alguns políticos malandros querem. É o sonho deles: tirar o Ministério Público de cena - querem o mesmo para a imprensa.

Na quarta-feira, 18, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), ligou para grandes jornais paulistas para corrigir uma informação passada equivocadamente pelo governo federal, que mostraria que ele, se quisesse, poderia reduzir o preço da tarifa de ônibus. Aos jornalistas, ele disse que um erro desse poderia colocar sua vida e de sua família em risco diante da pressão que estava sofrendo da sociedade.

Lógico que ninguém defende agressões. Ao contrário, temos que respeitar nossas autoridades, mas exigir que elas também nos respeite. Somos da paz, só queremos infernizar a vida desses políticos e tirar de circuito os que não aceitam cumprir sua obrigação de se dobrar diante da vontade popular.

Se houver uma votação de interesse de sua comunidade, e os eleitores encherem a caixa postal de seu representante, exigindo que vote em favor deles; se ligarem cobrando, se o encontrarem na rua e cobrarem uma postura em favor das pessoas, é pouco provável que o voto dele seja diferente disso.

Se esse representante popular se mostrar reticente e os eleitores forem para a porta da casa dele e do gabinete às centenas, aos milhares; se forem para as redes sociais fazer piadinhas, falar um monte contra ele, ridicularizá-lo, duvido que votará contra sua comunidade.

E se o político ousar ser fiel ao poder e não ao "seu povo" e na eleição seguinte não ser recebido nas casas de seus eleitores, e as lideranças que cooptarem [como sempre cooptam] também serem rechaçadas, esse sujeito sumirá da vida pública e será substituído por outro melhor.

É nessa política que acredito, foi ela que vi esta semana nas ruas e que espero que passe a reinar também no nosso tão sofrido Tocantins. Meu coração voltou a ter um pequeno raio de esperança.

Por isso, peço a todos os tocantinenses que estão lendo este artigo agora que vão para as ruas nesses eventos verdadeiramente cívicos que estão marcados por todo o Estado a partir desta quinta-feira, 20, e façam a diferença.

Sejam políticos, como somos seres políticos, no melhor significado dessa palavra.

Vamos mostrar aos nossos representantes que não queremos mais que eles façam negociatas com o mandato que lhes delegamos, que exigimos que sejam fiéis aos seus eleitores, não ao poder; que eles saibam que estão sendo observados e cobrados o tempo todo. Que lhe demos o mandato, mas lhe tiramos a paz que sempre tiveram para se enriquecer às nossas custas.

Mas vamos em paz, não nos comportemos como bandidos ou vândalos - como vimos em grandes centros -, mas como povo pacífico, ordeiro e trabalhadores que somos.

Ou seja, vamos mostrar que somos cidadãos de primeira grandeza e é um tratamento à altura que estamos indo cobrar.

Viva o Tocantins! Viva o Brasil! E vamos às ruas! 

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